Entrevista aguardada com ansiedade, a primeira da série com os presidenciáveis; Jair e Bonner frente a frente. E o que tivemos?
Uma sucessão de obviedades e um desempenho pífio dos entrevistadores. Jair estava calmo e respondeu a tudo sem piscar. Em resumo, uma entrevista horrorosa no JN, em que Bolsonaro saiu ganhando e deu um bom banho na dupla da bancada.
Vou destacar alguns temas abordados pela dupla e as respostas de Jair, depois, faço comentários gerais.
Ataque às urnas
O Jornal começa até bem, com Bonner trazendo o assunto do momento e questionando Bolsonaro: o que o senhor pretende com o ataque às urnas? O apresentador insiste na ideia de golpe e lembra que a sociedade civil se mobilizou com dois manifestos.
Mas Jair responde dizendo que Bonner não falava a verdade quando dizia que ele estava “xingando” os ministros e que aquilo era uma grande fake news da parte dele. E explicou que o que ele queria era transparência nas eleições, citando o inquérito de 2018, que estava inconcluso.
Por fim, a comparação: “Se você pode botar uma tranca a mais na sua casa para evitar que ela seja assaltada, você vai fazer o quê? Então, isso é o objetivo disso que eu tenho falado sobre o Tribunal Superior Eleitoral”.
E a tacada de mestre: Bolsonaro lembrou que, em 2014 (Dilma x Aecio), o PSDB duvidou do resultado das urnas e contratou auditoria independente, que atestou que as urnas são inauditáveis. E seguiu citando livremente denúncias de fraude nas urnas. Ponto pra Jair.
Pandemia
O segundo tema em pauta também pareceu que seria incômodo para Bolsonaro. Outro engano. Renata começou lembrando o “e daí?” e perguntando se ele não temia ser julgado pela história. Jair foi profilático.
Deitou e rolou para falar do tratamento precoce e para dizer que as pessoas foram estimuladas a ficar em casa na pandemia, o que atrapalhou a economia.
Renata insistiu dizendo que ele foi contra a vacina; Jair retrucou e disse que o governo dele comprou milhões de doses; questionado sobre a demora em responder à Pfizer, ele disse que a farmacêutica não quis assumir o perigo dos efeitos colaterais.
Questionado por Renata, disse que a menção ao jacaré era uma “figura de linguagem”. E aproveitou pra falar de novo que o lockdown tinha sido prejudicial a todos os países. Ou seja, ele reafirmou todas as barbaridades que havida dito na pandemia, sem se sentir intimidado com nada.
Questionado, ele refutou as acusações sobre o caos de Manaus, a falta de oxigênio, e disse que os cilindros chegaram sim em 40 horas e que não faltaram recursos. Ninguém retrucou.
Renata lembrou um episódio em que ele imitou pessoas com falta de ar e perguntou se não faltou ali compaixão. Ele retomou e reconfigurou a crítica, dizendo que ele fez o que tinha de ser feito, ou seja, ele visitou as pessoas que não tinham apoio dos governadores e disse que imediatamente o governo federal liberou o Auxílio Emergencial.
Nem Bonner nem Renata foram capazes de desmentir, lembrando que ele não queria o auxílio e que quem aprova o benefício é o Congresso. Disse ainda que o governo deu muito dinheiro aos governadores e citou o “circo da CPI do seu Renan, Omar Aziz, Randolfe”.
Economia
Os apresentadores estavam visivelmente engessados para perguntarem sobre o tema. Pra começar, Bonner lembrou uma fala de Bolsonaro no começo do governo de que não haveria inflação, juros altos, mas era exatamente o que estava acontecendo agora. Muito bonzinho, disse que, claro, havia a pandemia.
E perguntou: qual o seu plano se for reeleito? Jair falou das dificuldades com a pandemia e guerra na Ucrânia e disse que os números da economia são fantásticos. Falou de suas ações, que vai dar continuidade a elas e da negociação com Putin para garantir fertilizante.
Os entrevistadores tocaram tangencialmente em alguns assuntos da pauta econômica, sem nenhuma profundidade ou assuntos incômodos. Paulo Guedes nunca existiu.
Meio ambiente
Foi talvez o momento um pouco mais incômodo para Jair, mas não chegou a ser desconcertante. Renata começou lembrando a boiada de Salles, o ex-ministro do meio ambiente, falou da Amazônia, das queimadas. Bolsonaro respondeu dizendo que é preciso lembrar dos 30 milhões de brasileiros que vivem na região.
Renata citou alguns números, mas ele retrucou e falou em “abuso” do Ibama. Bonner indagou com insistência: “abuso?”. O apresentador reforçou que o mundo vê o Brasil como destruidor de floresta.
Bolsonaro respondeu citando a tentativa de acordo com a União Europeia e frisou que a a Alemanha está usando combustível fóssil, ou seja, na vida real, tudo é difícil.
Disse que e o Brasil será, grande fornecedor de combustível e que o país preserva sim. E aproveitou para colocar o agronegócio na cena em destaque e dizer que o Brasil é um grande fornecedor de alimentos.
Política
Quando questionado por Bonner em relação ao Centrão, Jair disse que o apresentador estava estimulando-o a ser um ditador, pois era impossível governar sem o Centrão. “São 300 deputados, como vou governar?”, enfatizou. Lembrou o auxílio brasil que ele conseguiu emplacar com o Centrão e que o PT foi contra.
Liberdade de expressão
Com desfaçatez, Bolsonaro disse que defende a liberdade de expressão e que entende quando as pessoas falam em “fechar o Congresso”, que é uma manifestação da opinião. Ele não pode falar isso, mas as pessoas podem…
Bonner retrucou, falou em respeito às urnas e enfatizou que queria ouvir o compromisso de Bolsonaro em respeitar o resultado da eleição. Bolsonaro deu o truco: disse que respeita eleições limpas; desde que sejam limpas, ele respeita. E pediu a Bonner que voltasse para a outra questão.
Educação
Citando todos os ministros da Educação, Renata indagou por que há dificuldade em escolher um bom ministro? Jair respondeu dizendo que escolhe, mas não sabe como eles são e eles mudam. Bonner insistiu na corrupção, nas denúncias, e Jair retrucou, tirando casquinha: cadê os dutos vazando dinheiro, Bonner?
PF e Moro
Bonner lembrou as denúncias de Sergio Moro em relação à conduta sobre a PF, e Bolsonaro lembrou que quem fez a acusação foi ele, Moro, e que a tal reunião citada tinha sido gravada e foi mostrada – e não tinha nada.
E ainda disse que, com a saída de Moro, a PF melhorou. Falou ainda que “ninguém comanda a PF como você tá dizendo; nem Lula, nem Dilma, nem Temer”.
Bonner retomou o assunto dizendo de uma nota dos policiais criticando a conduta; Jair falou que há muita briga na PF.
Onde está a fome?
Porque o JN não questionou Bolsonaro sobre os 33 milhões de brasileiros que passam fome no país? Por que o assunto não entrou na pauta?
Onde está o Orçamento Secreto?
Os apresentadores não perguntaram nada sobre o escândalo do orçamento secreto.
ONDE ESTÁ O DESEMPREGO?
ONDE ESTÁ A INFLAÇÃO?
ONDE ESTÁ O FATO DE QUE OS BRASILEIROS ESTÃO COMENDO PÉ DE GALINHA?
Nada disso foi abordado, indagado, lembrado, questionado.
Bolsonaro citou e criticou todos os grandes atores do momento político: Lula, STF, ministros do STF, Arthur Lira. Todos. Sem pestanejar e com muita desenvoltura. E passou por todos os temas.
O desemprenho de Jair
Bolsonaro respondeu todas as perguntas com tranquilidade, sem piscar.
Ele falou em perseguição, que era perseguido pelo STF, e destacou que a temperatura tinha subido, mas que tudo estava pacificado. Ou seja, apareceu como garantidor da ordem.
Trouxe de volta à cena as Forças Armadas – afirmou que elas é que vão garantir a segurança das eleições.
Indiretamente , uma resposta ao bordão manjado de Fachin – queremos forças desarmadas nas eleições.
Disse que não é possível governar sem o Centrão e que o importante é não ter corrupção.
No final, houve até espaço para Bolsonaro debochar: Ah, já acabou? Ficaria mais tempo aqui com vocês. Falou que pegou num país arrasado e que reforçou a questão ética e moral.
Destacou que houve a Covid e que o governo fez o melhor. Fim. Surfou na onda do jornalismo medíocre e que não sabe efetivamente – ou não quer – fazer perguntas incômodas. Só sabe mesmo usar cano enferrujado pra fazer acusação infundada.
E não adianta agora comentaristas engomados dizerem que Bolsonaro mentiu. Isso, suponho, não terá qualquer efetividade. Na primeira entrevista da rodada, Bolsonaro foi o ganhador.
de Eliara Santana, em seu blog
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