Partido deve fechar apoio ao ex-presidente, numa inflexão histórica da sigla, que nasceu de um racha no PT e nunca caminhou com o PTismo no 1º turno
Maior partido de esquerda surgido desde o PT, com oito deputados federais e o prefeito de uma capital (Belém), o PSOL, que nasceu de uma dissidência no petismo em 2004, ainda no início do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, como uma oposição à esquerda do governo, faz hoje o congresso mais dividido de sua história, mas que deve decidir pelo apoio ao petista para a Presidência da República.
Se o PSOL aprovar de fato o apoio ao PT, será a primeira vez que o partido sairá de mãos dadas com o petismo desde que foi criado. A sigla lançou candidatos próprios à Presidência em 2006 (Heloísa Helena), 2010 (Plínio de Arruda Sampaio), 2014 (Luciana Genro) e 2018 (Guilherme Boulos).
A decisão histórica não será aprovada sem choro e ranger de dentes. A divisão no partido em relação a ter candidatura própria ou apoiar Lula será o grande tema da Conferência Eleitoral do PSOL, a instância máxima do partido, neste sábado, 30, em São Paulo, para discutir a estratégia da legenda nas eleições deste ano.
Embora a direção nacional, encabeçada por Juliano Medeiros, tenha sinalizado o apoio a Lula – e já tenha avançado bastante nesse sentido –, há uma corrente minoritária no partido que quer lançar a candidatura do deputado federal Glauber Braga (RJ) á Presidência. Há ainda muitas críticas na legenda à escolha de Geraldo Alckmin (PSB) para ser o vice de Lula.
Também há divergências sobre a decisão de Guilherme Boulos de desistir da candidatura ao governo em São Paulo em favor de Fernando Haddad (PT). O grupo dissidente chegou a lançar o nome da vereadora Mariana Conti, de Campinas, e esse tema também deve incendiar o encontro.
A provável adesão a Lula passará pela imposição de vários pontos programáticos dos quais o PSOL diz não abrir mão. Uma lista com doze propostas iniciais já foi elaborada, e inclui a revogação das reformas da Previdência e trabalhista, o fim do teto de gastos, a “retomada do controle público da Petrobras” e o “controle social sobre os monopólios da grande mídia”. Boa parte delas já foi aceita pelo PT.
Frente de esquerda
Por causa do encontro do PSOL, o PT decidiu adiar para 7 de maio o lançamento da candidatura de Lula, que estava previsto inicialmente para este sábado. E não é para menos: a adesão do PSOL fará com que Lula feche uma frente com todos os principais partidos de esquerda.
O petista já tem o apoio do PSB – que indicou o vice Alckmin – e do PV e do PCdoB, com quem formou federação. Na quarta (27) recebeu o apoio formal da Rede, numa articulação conduzida pelo senador Randolfe Rodrigues (AP), que terá papel importante na campanha de Lula.
A adesão em massa das siglas de esquerda a Lula deixou descontentes não só no PSOL. Na Rede, a ex-senadora Heloísa Helena, ex-petista, se recusa a apoiar Lula e já anunciou ser simpática a Ciro Gomes (PDT). A ex-ministra e também ex-senadora Marina Silva, outra ex-petista, mantém uma indefinição, mas faz críticas ao petista, de cujo governo saiu descontente em maio de 2008 – ela era ministra do Meio Ambiente.
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