Troca de acusações e ataques entre governador paulista e deputado mineiro voltaram a acirrar os ânimos no
Não é de hoje que há um racha no PSDB, colocando em lados opostos o governador de São Paulo, João Doria, e o deputado mineiro Aécio Neves.Essa briga ganhou mais um capítulo na semana passada, quando o tucano paulista chamou Aécio de “covarde” e de “pária dentro do PSDB”, e o mineiro rebateu chamando Doria de “desqualificado” e o acusando de oportunismo. A disputa já está se refletindo na campanha pelas prévias que vão definir o candidato do partido ao Planalto em 2022.
Atualmente, há quatro nomes colocados para a disputa, sendo Doria e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, os únicos que têm feito campanha para serem escolhidos nas prévias. Outro nome é o do senador cearense Tasso Jereissati, de quem é esperada uma desistência em prol de Leite. Também está na disputa Arthur Virgílio Neto, único sem mandato.
Eduardo Leite é o candidato de Aécio Neves. Inclusive, no início do ano, uma comitiva de deputados foi a Porto Alegre pedir que Leite se lançasse pré-candidato. A medida foi uma reação a um jantar promovido por Doria em São Paulo, em que o governador pautou novamente a expulsão de Aécio e propôs ser o novo presidente nacional da sigla.
Apesar de manifestar apoio a Leite, que já iniciou sua campanha com viagens aos Estados, Aécio é entusiasta de uma candidatura única de centro e cogita a possibilidade de que o PSDB abra mão de lançar um postulante nas próximas eleições.
“Mais importante do que ter uma candidatura do PSDB é ter uma candidatura viável. Por isso nós temos tido discussões internas de que uma candidatura excludente, como, por exemplo, a do governador de São Paulo, que não consegue agregar nenhuma força política além da do seu entorno, pode contribuir para fortalecer a polarização. O que Lula e Bolsonaro devem estar querendo hoje? Que existam várias candidaturas ao centro e que o centro se pulverize, porque isso ajuda o projeto deles”, analisa Aécio. Ele acrescentou que Leite e Tasso compartilham do mesmo sentimento.
Por outro lado, Doria tem distribuído valores recorde em emendas, sendo a maior parte delas a deputados estaduais e federais de seu partido, em uma tentativa de convencer os tucanos eleitos a ficarem ao seu lado na disputa.
Prévias
O modelo das prévias do PSDB foi definido de modo que o peso do voto dos filiados seja de 25% – enquanto Doria defendia 50%. Da mesma forma, o voto de deputados federais e senadores terá peso de 25%; o voto de deputados estaduais e governadores pesa outros 25%; e o de prefeitos e vereadores completa os 100%.
Aliado de Doria, o deputado federal Carlos Sampaio avalia que não houve derrota do governador na definição do modelo das prévias, e sim um entendimento diferente daquele da comissão constituída pra definir o método. Ele lembrou que Doria é o único político do partido a disputar prévias. “Ele enfrentou as duas únicas prévias que aconteceram no país (para a Prefeitura de São Paulo, em 2016, e para o governo do Estado, em 2018) e foram ambas por uma iniciativa do PSDB”.
Também próximo do governador paulista, o deputado mineiro Domingos Sávio minimiza a derrota de Doria. “Num primeiro momento, até defendi essa tese, depois me curvei ao entendimento de que pesos diferentes podem ter sido o modelo mais adequado. Acho que todos os dois (Doria e Leite) têm chances de ganhar dentro desse modelo, que não tira ninguém do páreo. Está todo mundo no páreo e com chances reais de ganhar”, afirmou Domingos Sávio
Aliança de centro divide tucanos
A tese de Aécio Neves de que o PSDB pode abrir mão de lançar candidato para apoiar uma candidatura única de centro é endossada por parte da bancada mineira, que aposta no nome do senador Rodrigo Pacheco (DEM) para disputar a Presidência.
“A gente acha que um candidato de centro ganha, ou do Lula, ou do Bolsonaro, e vai para o segundo turno”, avalia o presidente do PSDB mineiro, deputado Paulo Abi-Ackel, que é próximo de Aécio e também aposta no presidente do Senado.
No entanto, essa avaliação não é unanimidade. O vice-presidente do PSDB nacional, o deputado Domingos Sávio, afirma que não se podem iniciar discussões sobre o destino do partido nas próximas eleições já cogitando a retirada do time tucano de campo.
“É claro que não devemos ser intransigentes na discussão de uma aliança do centro democrático, mas quem tem a pretensão de ter um candidato à Presidência não se senta à mesa já dizendo que pode abrir mão. Qualquer prefeito de uma cidadezinha de 3.000 eleitores sabe que a construção de um acordo político começa por você ter habilidade e a competência de demonstrar que tem cacife, tem forma e tem um bom candidato e tentar trazer o grupo para abraçar esse candidato em torno de um projeto”, avaliou Sávio.
A opinião é compartilhada pelo deputado Carlos Sampaio. “A gente já começar dizendo que é melhor ceder é desconhecer o próprio tamanho do PSDB e a dimensão de seus pré-candidatos. São todos muito qualificados. Então, acho que o PSDB tem que estar aberto para o diálogo, sim”, disse o paulista, criticando a ideia defendida por Aécio Neves.
Clima quente.
A disputa entre Aécio e Doria – que voltou a esquentar nas últimas semanas – se arrasta desde 2019, quando o paulista tentou expulsar Aécio sob acusação de corrupção. No entanto, os dois pedidos foram arquivados pela sigla.
Na semana passada, em entrevista ao programa “Roda Viva”, Doria atacou o mineiro e pediu seu afastamento do PSDB. Aécio rebateu dizendo que Doria foi oportunista ao subir em palanque com Jair Bolsonaro em 2018 e disse que o governador tenta tomar o partido para si.
Votação sobre o voto impresso escancarou divisão
O placar da votação da PEC do voto impresso na Câmara expôs um PSDB dividido, inclusive com maioria contrariando a orientação do próprio partido, que indicou o voto contrário à impressão do voto. Na avaliação de Aécio Neves, a discussão foi “extremamente rasa”.
“Há seis anos, o PSDB foi unânime e votou a favor da possibilidade de impressão do voto porque, em outro ambiente, havia a compreensão de que todo sistema de votação precisa evoluir. Por que o nosso também não poderia evoluir? O que ocorreu foi que o presidente Bolsonaro, com as suas acusações, contaminou o debate”, disse ele, que foi o único dos mais de 500 deputados a se abster.
“Me abstive para chamar atenção, porque eu acho que essa discussão tem que voltar lá na frente após 2022, com outros atores políticos”.
de O Tempo
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