Em meio à pandemia, surto de "fungo negro", um surto de mucormicose, doença fúngica rara que está atacando pacientes debilitados pelo coronavírus
Além da covid-19, a Índia enfrenta um surto de mucormicose, uma uma doença fúngica rara que está atacando pacientes debilitados pelo coronavírus. A doença aumenta ainda mais a pressão sobre os hospitais indianos, já superlotados. Em meio ao surto, o governo da Índia ordenou uma vigilância mais rigorosa da mucormicose e disse nesta sexta-feira (21/05) que está empenhado em aliviar a escassez de um medicamento usado para tratar a doença fúngica rara.
Não há relação com a variante indiana da Covid-19, que está sendo monitorada no Brasil. A infecção geralmente rara, chamada mucormicose, tem uma taxa de mortalidade de 50%. Sendo que algumas pessoas para serem salvas acabam tendo que ser submetidas a operações radicais como a retirada dos olhos ou do osso da mandíbula.
Pelo menos 7.250 desses casos foram reportados em toda a Índia até 19 de maio, informou a mídia local. Até 2020, apenas cerca de 20 casos de mucormicose eram registrados no país por ano. Nove estados já declararam epidemia da doença. Os médicos suspeitam que pode haver uma ligação com os esteróides usados para tratar a covid.
Os diabéticos correm um risco ainda maior, com médicos dizendo à BBC que o fungo parece atacar entre 12 a 15 dias após o paciente se recuperar da covid.
Na quinta (20), o secretário adjunto do Ministério da Saúde da Índia, Lav Agarwal, escreveu aos 29 Estados da Índia para pedir que declarem epidemia. Com isso, o ministério poderá monitorar mais de perto o que está acontecendo em cada região e permitir uma melhor integração do tratamento. Não está claro exatamente quantos casos ocorreram em todo o país, que atualmente enfrenta uma segunda onda mortal de covid-19, que tem causado dezenas de milhares de mortes.
Na semana passada, o secretário de Saúde de Maharashtra, Rajesh Tope, disse que havia 1.500 casos da infecção no Estado, que também é um dos mais afetados pela segunda onda de covid-19 na Índia.
Um hospital em Mumbai, capital de Maharashtra, informou à BBC que registrou 24 casos em dois meses, contra seis em todo o ano de 2020.
Os médicos também disseram à BBC como foram forçados a remover os olhos e os ossos da mandíbula de pessoas, na tentativa de impedir a propagação do fungo antes que atingisse o cérebro. Mas deixando o paciente permanentemente desfigurado.
O aumento de casos levou à escassez de anfotericina B, a droga usada para tratar a mucormicose, apesar dela ser fabricada por muitas empresas indianas. Isso também levou famílias a se voltarem para o mercado paralelo em desespero à procura do medicamento.
O que é mucormicose?
A mucormicose é uma infecção muito rara. Ela é causada pela exposição ao mofo mucoso, que é comumente encontrado no solo, plantas, esterco e frutas e vegetais em decomposição.
“É onipresente e encontrado no solo e no ar e até mesmo no nariz e no muco de pessoas saudáveis”, disse Akshay Nair, um cirurgião oftalmologista de Mumbai.
O fungo afeta os seios da face, o cérebro e os pulmões e pode ser fatal em indivíduos diabéticos ou gravemente imunocomprometidos, como pacientes com câncer ou pessoas com HIV / Aids.
Segundo os médicos ouvidos pela BBC, o uso de esteroides é um tratamento que salva vidas de pacientes graves com covid-19 em estado crítico de saúde.
Os esteroides reduzem a inflamação nos pulmões e parecem ajudar a interromper alguns dos danos que podem ocorrer quando o sistema imunológico do corpo entra em atividade para combater o novo coronavírus.
Mas acabam por reduzir a imunidade e aumentam os níveis de açúcar no sangue em pacientes diabéticos e não diabéticos com covid-19. Acredita-se que essa queda na imunidade possa estar desencadeando esses casos de mucormicose.
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