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Apresentado como um trunfo no combate à pandemia de covid-19, o Hospital de Campanha de Natal coleciona polêmicas desde sua instalação. Nenhuma delas foi capaz de demover o discurso oficial de que a capital do Rio Grande do Norte vinha salvando vidas no equipamento montado em hotel abandonado na Via Costeira.
Mas conversas privadas obtidas com exclusividade pelo Blog do Dina desmontam a narrativa oficial e expõem que a UTI do hospital de campanha de Natal reúne uma série de desorganização que teria resultado até na mortes de pacientes.
Os registros que embasam essa reportagem estão em diálogos de grupo de WhatsApp da equipe que atua na UTI do hospital. O Blog do Dina recebeu as conversas e procurou quatro dos participantes que aparecem nela. Três informaram que não iriam comentar e um conversou reservadamente, confirmando a autenticidade do conteúdo. Os nomes dos profissionais serão preservados.
Por entender que há relevante interesse público nas conversas, que documentam erros procedimentais, o Blog do Dina decidiu publicá-las. Para tanto, procurou, como vem fazendo, a Secretaria Municipal de Saúde para comentar o caso. Igualmente como vem fazendo, a assessoria de imprensa ignorou a demanda e não respondeu.
Conversas
As conversas se dão entre as equipes médicas e de enfermagem. O ponto inicial da discussão foi quando um médico se queixou que o acesso à UTI era fácil e feito por qualquer pessoa, que depois comunicava o estado de saúde de pacientes a familiares.
Essa primeira mensagem já dá a dimensão do problema, quando o médico descreve procedimentos adotados sobre pacientes que configuram erro, acrescentando que os descreve em prontuário, mas poupa as famílias dos detalhes do que aconteceu.
Os textos serão transcritos conforme foram registrados. A primeira mensagem foi a seguinte:
“Posso durante essas ligações [para as famílias] tbem relatar os erros que equipe de enfermagem está fazendo nesta UTI como correr 400ml de dieta em 3h, usar água em cateter central, fazer meropenem em sonda vesical, deixar noradrenalina em dose dobrada com 60ml/h desligada por mais de 20min, checar medicação sem ser administrado no paciente. São exemplos de algumas coisas que eu vi sendo feito nessa UTI que relatei no prontuário médico, porém não relatei para os familiares que estão passando por este momento de aflição de ter um familiar grave internado na UTI”, reclamou o médico.
Uma das mensagens seguintes escancara as consequências:
“[…]temos cometidos muitos erros e isso tem ceifado a vida de muitos pacientes, uns podem apoiar [NOME OMITIDO] outros podem discordar, qual lado vcs estão não importa, o que importa são às vidas, estamos perdendo vidas uma estamos perdendo por causa da gravidade da doença, outra estamos perdendo por causa dos erros do processo de cuidar e isso eu digo de uma equipe como um todo, talvez vos se sintam ofendidos pq a equipe de enfermagem é a espinha dorsal de todo hospital”
As mensagens despertaram reação dos profissionais ligados à enfermagem, o que levou um dos participantes a voltar à carga para defender o médico que postou a primeira mensagem, afirmando que ele só não queria mais assinar óbitos resultantes da ação de terceiros: “Acho que ele já esta cansado de assinar óbitos por incompetência dos outros” Erros e desorganização O ponto a que chegou a discussão revela como A falta de controle está afetando o trabalho da equipe e como os sucessivos erros descritos se refletem sobre pacientes. Ao responder a um dos participantes da discussão, uma das pessoas informa que até terceirizados da empresa JMT, que presta serviços gerais no hospital, acessam informações médicas. |
Em outra passagem, é dada ciência no grupo que uma paciente vai perder a mão por causa de um procedimento.
As conversas também apontam que as equipes que atuam na UTI do Hospital de Campanha não passaram por treinamento ou se reuniram sob uma coordenação unificada.
Diante das denúncias que surgiram no grupo de WhatsApp, um dos participantes informa que todas as reclamações devem ser tratadas diretamente com as coordenações, e não em grupo de mensagem e que uma reunião estava prevista para a tarde desta segunda-feira (6) para tratar sobre o tema.
Histórico
O Hospital de Campanha de Natal surgiu já envolvido na polêmica contratação da empresa que iria fornecer mão-de-obra especializada, a T&N, que tinha sócia ligada ao prefeito de Natal e era ainda administrada por outras pessoas ligadas também a empresas que detinham contratos na gestão.
Após episódios como falta de equipamentos, o hospital protagonizou mais uma polêmica ao ser alvo do Ministério Público por publicidade que o MP chamou de mentirosa, já que a Prefeitura anunciou o funcionamento do equipamento, mesmo sem ele estar operando.
do blog do Dina
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